13 de Maio de 2020
A vocação cristã em meio à tempestade.
No Quarto Domingo do Tempo Pascal celebramos o chamado Domingo do Bom Pastor e com ele o 57º Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Na Carta que o papa Francisco escreveu para esta ocasião ele, não por coincidência, escolheu o mesmo texto da Oração realizada pelo Fim da Pandemia no dia 25 de março.
O papa fez sua meditação a partir do texto do Evangelho de São Mateus capítulo 14, dos versículos 22 a 33: “Depois da multiplicação dos pães, que entusiasmou a multidão, Jesus manda os discípulos subir para o barco e seguir à sua frente para a outra margem, enquanto Ele despedia o povo. A imagem desta travessia do lago sugere de algum modo a viagem da nossa existência. De fato, o barco da nossa vida avança lentamente, sempre preocupado à procura dum local afortunado de atracagem, pronto a desafiar os riscos e as conjunturas do mar, mas desejoso também de receber do timoneiro a orientação que o coloque finalmente na rota certa. Às vezes, porém, é possível perder-se, deixar-se cegar pelas ilusões em vez de seguir o farol luminoso que o conduz ao porto seguro, ou ser desafiado pelos ventos contrários das dificuldades, dúvidas e medos”.
Todos e cada um de nós somos chamados a uma realização e uma doação aos outros por meio de uma vocação. Vocação sempre inclui doação, seja por meio de uma consagração religiosa ou sacerdotal, seja por meio de uma vida em comum por meio do matrimônio. Neste tempo de pandemia, percebemos de repente que a vida de cada um corre riscos, os riscos causam medo e insegurança. Como pensar em doar a vida por meio de uma vocação se temos medo de perder a nossa vida?
Avançar para águas profundas é uma aventura nada tranquila, pois “cai a noite, sopra o vento contrário, o barco é sacudido pelas ondas, e há o risco de sobrepor-se o medo de falhar e não estar à altura da vocação”. No meio da aventura desafiadora e do medo que nos abate a Palavra de Deus nos diz que não estamos sozinhos. “O Senhor caminha sobre as águas tumultuosas e vai ter com os discípulos, convida Pedro a vir ao encontro d’Ele sobre as ondas e salva-o quando o vê afundar; finalmente, sobe para o barco e faz cessar o vento”. Por isso para todos os cristãos o papa diz que a primeira palavra relacionada à vocação é “gratidão. Navegar pela rota certa não é uma tarefa confiada só aos nossos esforços, nem depende apenas dos percursos que escolhemos fazer”, porque “mais do que uma escolha nossa, a vocação é resposta a uma chamada gratuita do Senhor”.
A segunda palavra da vocação é “Coragem... Quando somos chamados a deixar a nossa margem segura para abraçar um estado de vida – como o matrimônio, o sacerdócio ordenado, a vida consagrada – muitas vezes a primeira reação é constituída pelo ´fantasma da incredulidade´: não é possível que esta vocação seja para mim; trata-se verdadeiramente da estrada certa? Precisamente a mim é que o Senhor pede isto?”. Deus sabe que uma decisão tão séria, uma opção fundamental de vida – como casar-se ou consagrar-se – exige coragem. “Ele conhece os interrogativos, as dúvidas e as dificuldades que agitam o barco do nosso coração e, por isso, nos tranquiliza: ‘Não tenhas medo! Eu estou contigo’.” A fé na presença de Jesus Ressuscitado que nos acompanha mesmo quando o mar está revolto, liberta-nos da acédia, da “tristeza adocicada”, do “desânimo interior que nos bloqueia impedindo-nos de saborear a beleza da vocação”.
A terceira palavra indicada pelo papa é “fadiga”. Toda vocação requer empenho, entrega, cansaço. “O Senhor chama-nos, porque nos quer tornar, como Pedro, capazes de ‘caminhar sobre as águas’, isto é, pegar na nossa vida para a colocar ao serviço do Evangelho, nas formas concretas que Ele nos indica cada dia e, de modo especial, nas diferentes formas de vocação laical, presbiteral e de vida consagrada”.
Na vocação que cada um é chamado a viver, os ventos podem atrapalhar e causar fadiga. O papa pensa em cada vocacionado, “em quantos assumem funções importantes na sociedade civil, nos esposos, que intencionalmente me apraz definir ‘os corajosos’, e de modo especial (...) nas pessoas que abraçam a vida consagrada e o sacerdócio”. E ainda diz: “Conheço a vossa fadiga, as solidões que às vezes tornam pesado o coração, o risco da monotonia que pouco a pouco apaga o fogo ardente da vocação, o fardo da incerteza e da precariedade dos nossos tempos, o medo do futuro. Coragem, não tenhais medo! Jesus está ao nosso lado e, se O reconhecermos como único Senhor da nossa vida, Ele estende-nos a mão e agarra-nos para nos salvar”.
Louvor é a quarta e última palavra enunciada pelo papa a respeito da vocação cristã, e é um convite a cultivar a atitude de Maria, Mãe de Jesus e Nossa Mãe: “agradecida pelo olhar que Deus pousou sobre Ela, superando na fé medos e perturbações, abraçando com coragem a vocação, Ela fez da sua vida um cântico eterno de louvor ao Senhor”.
Francisco diz o quanto deseja que a Igreja percorra o caminho de serviço às vocações, “abrindo brechas no coração de todos os fiéis, para que cada um possa descobrir com gratidão a chamada que Deus lhe dirige, encontrar a coragem de dizer ‘sim’, vencer a fadiga com a fé em Cristo e finalmente, como um cântico de louvor, oferecer a própria vida por Deus, pelos irmãos e pelo mundo inteiro”.
Esta mensagem do papa relembra uma grande verdade esquecida: todos temos vocação. A vocação primeira é amar. Depois de ler este texto reflita um pouco: como você tem amado? Como você tem sido imagem do Amor de Deus? Se você é jovem e ainda não escolheu sua vocação, ouça seu coração, a que Ele me chama? Só amando seremos felizes. Lembre-se de rezar pelas vocações, sua e dos outros. Reze para que cada comunidade consiga despertar diversas novas e santas vocações.
Autor: Pe. Marcos André de Oliveira.